sexta-feira, 13 de junho de 2008

Afinal o que é a esteva?


Conhece a Esteva? Aquele mato de flores brancas tão comum nos nossos campos? Pensava que a Esteva não é mais do que um simples arbusto transitório sem importância? Pensava? Então leia esta surpresa.

Ensinaram-me, quando comecei a estudar ecologia que a esteva, ou xara como é conhecida em algumas regiões próximas da fronteira com a Espanha, era um indicativo da chegada à fase final da degradação de muitos dos nossos biotopos.

Com efeito, quando os sulcos sucessivos do arado, em busca da cama para o trigo, acabaram por deixar à superfície pouco mais do que a rocha-mãe, a qual ficou exposta à impiedosa soalheira ou aos invernosos frios arrancados do coração da Meseta, que ser vivo há, capaz de resistir a tais rigores? A esteva.

Que, a pouco e pouco, perserverante, com uma vontade inquebrável, nascendo às vezes nos intervalos das rochas, rasgando chão por entre as fendas dos xistos, consegue sobreviver. Depois instalar-se e, finalmente, cobrir encostas e encostas outrora deixadas nuas pelo abuso dos homens. E o aroma vigoroso do seu ládano passa a encher de Verão as noites quentes. E as magras folhas, cobertas de goma, resistindo ao calor do Sol, criam, a pouco e pouco, sombra. Onde nasce tojo, rosmaninho, pilriteiro, aqui e ali catapereiro, silvados e um conjunto sucessivo de arbustos onde os pássaros fazem ninho. Onde o coelho se furta das vistas de uma águia. Onde a perdiz refugia os perdigotos que escapam assim de morrer desidratados.

Onde o javali encontra refúgio e comida revolvendo o solo já formado em torno das raízes. Rico em insectos e larvas que a galinhola, escapada aos frios setentrionais, também não desconhece.

Quando o homem recomeça, um dia, a arrancar a esteva - e foi com ela que durante séculos aqueceu o forno do pão - dá-se conta que por entre aquele matagal, aparentemente monótono, vêm já irrompendo azinheiras e sobreiros, nascidos das landes e bolotas deixadas por algum gaio, ou pombo, ou outro qualquer dos recursos maravilhosos de que a natureza deitou mão.

Voltou o montado!

Voltaram os densos matos mediterrânicos e toda a riqueza faunística que os acompanha. E eis que então, com o despontar da Primavera, com o renascer do campo, aparece a serra coberta de um enorme manto branco. Flores de pétalas imaculadas umas, outras marcadas por um pequeno coração vermelho-sangue.

Flores que atraem as abelhas mas que também ajudam a cerva a dar mais leite à cria.

Flores que gerarão as cápsulas que irão ajudar a fazer do cervato o veado de amanhã. O senhor da serra e das várzeas, cujo berro da brama encherá os vales no Setembro próximo!

Da esteva, da modesta e pobre esteva, brotou toda a esperança...

4 comentários:

Anónimo disse...

"Onde a perdiz refugia os perdigotos que escapam assim de morrer desidratados."

Eu afirmo que Vossa Ex., não é um condutor de jipes todo terreno. Não !
Vossa Ex. é um poeta.
Não um poeta qualquer. Não um poeta que dramatiza sobre sentimentos reles. Não !
Vossa Ex. poeta é, e com a sua alma aberta, dedica prosa á esteva e ás suas virtudes.
Diria que é um poeta ainda sem o saber. Um poeta tal como um diamante em bruto, em que falta limar algumas arestas. Mas o sentido e a veia está lá, na sua prosa.Termino com mais esta bela frase retirada do texto :

"Onde nasce tojo, rosmaninho,pilriteiro,
aqui e ali catapereiro,
silvados e um conjunto sucessivo de arbustos
onde os pássaros fazem ninho.
Onde o coelho se furta das vistas de uma águia .....
Da esteva,
da modesta e pobre esteva,
brotou toda a esperança..."

Anónimo disse...

Também eu comungo da opinião do anónimo de 13/06 e não deixo de sublinhar, que estas odes á esteva, são uma delicia para os sentidos. Deixo como ideia força de todo o texto o seguinte :

"E eis que então,
com o despontar da Primavera,
com o renascer do campo,
aparece a serra coberta de um enorme manto branco.
Flores
de pétalas imaculadas
umas,
outras
marcadas por um pequeno coração vermelho-sangue."

Explosivo para os sentidos, fantástico, soberbo, não tenho palavras para descrever as emoções.

Anónimo disse...

flores pisam-nas e a bixarada enxotam-na..

Anónimo disse...

Porreiro pá !!!!!